domingo, 14 de junho de 2009

amei um ser que idealizei e travesti de ti

Quando te conheci, entreguei-te, além do meu amor, toda a minha confiança. Jamais confiei em alguém daquela maneira. Jamais me farias mal. Jamais me trairias. Jamais me deixarias. Jamais deixarias de me amar. Eras ideal. Perfeito. Para amar e para ser amado.

Deixei-me ser tua rainha e continuei fazendo de ti meu príncipe encantado. Porque como rainha haveria sempre a possibilidade de estar na tua realidade e como príncipe continuarias sendo sempre o meu sonho encantado!

Amei um ser que idealizei e travesti de ti.

Ao rolar contigo no leito de paixão, eu embolava a minha ilusão na tua realidade e não percebia que estava sendo indiscreta e mal querida. Rolei e embolei a minha alegria e pureza, na tua amargura e tua desconfiança.

E consegui... Fiz com que entendeste meu amor. Em conseqüência, me ensinaste o teu desamor.

Aprendi a temer o dia seguinte, o momento seguinte ... E passei a ser cuidadosa ... Cuidadosa demais... tanto, que deixei aos poucos de ser tão apaixonada pelo amor! Logo, então, que parecias interessar-se por ele!..

Enxerguei e ouvi a realidade vociferar através da tua boca que jamais fui suficiente para fazer-te feliz! E tudo aquilo que era verdade incontestável, passou a ser mentira. De doce, fui amarga. De pura, passei a entender a maldade. Deixei de confiar, porque ouvi mentiras, inocentes, no início, mas que para mim, eram grandiosas mentiras. Porque eu jamais te menti, nem grande, nem pequeno.

Agora, reconheço que pequei pela verdade. Achei que desejavas a verdade, mas vinhas de um mundo muito real e doloroso e necessitavas agora do sonho e da mentira. Por isso nos amamos tanto! Eu fui a mentira que sonhavas e foste a realidade que eu sempre me neguei a ver, e que se apôs a mim, através do meu próprio amor. Ensinei-te a amar e me ensinaste o que jamais desejei aprender: a desconfiança e o desamor. Infelizmente, para nós dois, fomos ambos bons alunos e dedicados mestres.

Na ânsia de te ter e ao teu amor, eu os perdi aos dois. E sinto falta do amor e falta de ti.

Por isso, para aplacar a imensa frustração de nunca conseguir estar em sintonia contigo, abraço-me ao computador, deleito-me com os estudos, sonho em ser alguém ... Quando na realidade, a minha felicidade seria continuar colocando em minhas telas a paixão do amor e a alegria estúpida do sonho de ter um príncipe encantado que jamais deixaria de me amar... e que um dia ... como nas histórias infantis ... me levaria em seu cavalo branco até as nuvens e me faria feliz, sendo feliz também.

Mas os sonhos acabam quando a gente acorda...

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, 12 de maio de 1996 - domingo - dias das mães - 14:40 hs.

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